Também conhecido por muitos, até pelos seus gurus, como “Empreendorismo”,
é descrito como a arte de fundar uma organização com actividades inovadoras
para o seu sector. Muito bem, eu cá vejo este empreendedorismo como uma nova
estripe do pioneirismo. Quer isto dizer que, ser pioneiro é ser inovador, ser o
primeiro a fazer alguma coisa, ter uma ideia que possa mudar o mundo. Peguem
nisso, juntem-lhe lucro e voilá: empreendedorismo.
A primeira vez que fui introduzido ao conceito de
empreendimento significava pôr as mãos na massa, fazer um projecto passar do
papel ou da cabeça para a acção, fosse ele qual fosse. Agora a figura do
empreendedor é um “enfatiadinho” engravatado cosmopolita, que vai para o seu
escritório num arranha-céus e vai de fato e mochila da east-pak, e que teve uma
ideia que faz chover milhões. Por toda a rede se vê cartazes de cimeiras,
concursos, eventos, certames, congressos e qualquer coisa mais sobre o tema,
onde os gurus do empreendedorismo promovem sessões de motivação dignas da IURD,
e fazem concursos onde o maior idiota (o gajo que tem as melhores ideias),
ganha um prémio chorudo para pôr a funcionar o seu “profit bird”.
Depois acontece como ao grande imperador-guru do empreendedorismo
português, Miguel Gonçalves. Grandes ideias, grandes gamanços, é o que dá.
Depois de andar de faculdade em faculdade a dar conferencias TEDx e a proferir umas tiradas como “é preciso bater
punho”, o guru foi escolhido por Miguel Relvas como embaixador do programa
impulso jovem, só para ser despedido dois meses depois. Não particularizando
neste episódio, os idiotas têm as suas ideias milionárias e os peixes grandes é
que aproveitam o rendimento. É assim a mecânica do empreendedorismo, um conceito simples e puro, agora transformado numa nova igreja que venera o
lucro.
Puxar-lhes o rabo só não chega.
Jamie Oliver tem agarrado os maiores touros pelos cornos. “Food Revolution” é o
mote deste chef, que já é uma lenda no
mundo da televisão e alimentação. Potenciado pela “Jamie Oliver’s Food Foundation”, o “Naked Chef” começou, em 2012, o programa de TV “Jamie’s Food
Revolution”, do qual o momento mais famoso foi a vitória da batalha judicial
contra a gigante McDonalds, depois de ter descoberto que a cadeia de fast-food usava hidróxido de amoníaco
para lavar as peças de carne menos nobres dos animais e conferir-lhes uma
textura mais gorda para fazer os deliciosos hambúrgueres que tantos adoram.
O porta-voz da McDonalds veio de
rabinho entre as pernas dizer que tinham mudado a receita mas que a decisão não
estava relacionada com a denúncia de Jamie. Quanta honestidade e modéstia. “Food Revolution” vai ainda mais longe, entre Londres e Los Angeles, Jamie Oliver
está a mudar mentalidades e hábitos, desde o pai solteiro aos agrupamentos
escolares, passando por restaurantes locais de fast-food. O objectivo é que as pessoas consumam mais vegetais e
produtos não processados, melhorando assim a condição física e a saúde da
população. A mudança tem sido uma autêntica guerra, principalmente nas escolas
de L.A.. Mesmo munido com provas científicas de que o desempenho dos alunos
seria melhor se comessem melhor, a entidade que regula as escolas da cidade dos
anjos considerou que o investimento era muito grande e que o nível de qualidade
existente já era muito bom. O antigo director dessa entidade até teve uma saída
infeliz quando vedou o acesso da equipa de Jamie às escolas e disse que era uma
decisão dele e não da entidade. Depressa foi corrido e o novo director não
tardou a reatar as relações com o “Naked Chef”, dando nova oportunidade aos
seus esforços.
A revolução não passa só por este
programa. A fundação de Jamie está por trás de mais uma série de projectos
relacionados com a intervenção nas escolas, como a abertura de dinners nas imediações das escolas,
incentivando os alunos a irem lá comer as receitas saudáveis do chef e o “Kitchen Garden Project” que
tem como objectivo inserir aulas de cozinha nas escolas primárias, para que se
deixe ouvir respostas como “O leite vem do pacote” e “A massa é um produto
animal”. Para além disso, abriu o restaurante “Fifteen”, onde dá formação a
jovens com problemas familiares e escolares, no sentido de criar uma nova
oportunidade para os que vêm de meios disfuncionais. Não esquecendo ainda “Ministry
of Food”, uma série de escolas espalhadas pelo Reino Unido que ensinam truques
práticos de cozinha para os mais azelhas e “Revolution Day”, uma espécie de Masterclass itinerante onde todos os
locais são convidados a participar.
Respeito para esta personalidade que enche as mãos com
trabalho que faz diferença. Para além desta nova vertente como activista da
alimentação, Jamie ainda é autor de mais uma série de programas de televisão,
como “15 minute meals” e “Jamie’s Grea Brittain”, e livros, como “Jamie’s
America” e “Jamie’s Italy”, sempre com o objectivo de mostrar ao público novas
maneiras de cozinhar e comer melhor e mais saudável. Só me resta dizer, “Go my
son!” e muda o mundo enquanto eu te vejo do meu sofá e como nuggets.
Seu Jorge fechou em grande a sua visita a Portugal, com três concertos
em Portimão, Guimarães e Lisboa. No ex-Pavilhão Atlântico, que virou Meo Arena,
o Mané Galinha encheu a casa e animou a malta por mais de duas horas.
Acompanhado pelo “Conjuntão Pesadão”, passou do pézinho de dança, pelas baladas
de amor e desamor, à introspecção social acabando em rockalhada e pastéis de
Belém.
O “Conjuntão Pesadão” entrou em
palco com largos minutos de atraso e com a plateia a desesperar, depois do
calor deixado por Tiago Bettencourt começar a dissipar. Os músicos apresentaram-se
e finalmente: “Seu Jorge!!!”, que começou em altas com «Alma de Guerreiro»,
música feita de propósito para a novela brasileira «Salve Jorge» que, nem a
propósito, começa com “Jorge vem de lá da Capadócia, montado em seu cavalo”. Pés e vozes levantam-se com uma
versão um pouco diferente da de estúdio de “Mina do Condomínio” do álbum “América
Brasil”. Aliás, o Mané condensou bem a sua década e picos de carreira neste
concerto e logo a seguir “Chega no swingue” que veio dar o que dançar em viagem
no tempo até ao seu primeiro álbum “Samba Esporte Fino”.
Ainda tivemos direito a “Pessoal
Particular” antes de ficar muito calor na sala e Seu Jorge acalmar as hostes
com "Quem não quer sou eu", ambas do mais recente “Músicas para churrasco Vol.1”
e é aqui que começam os beijinhos pela plateia e balcões. Antes que a coisa
rolasse mais do que devia, Seu Jorge declama “Zé do Caroço”, de Leci Brandão, e
“Negro Drama”, dos Racionais Mc’s. Seu Jorge viveu na rua durante três anos, só
com a sua guitarra, e conhece bem a realidade das favelas, por isso não foi
surpresa que fossem declamadas estas músicas pela profunda voz do Mané Galinha,
que juntam o clamor da necessidade de um líder nas favelas e uma crítica sobre
a exclusão dos pretos no Brasil. Infelizmente foi o momento em que alguns
clientes mais exigentes ou com vontades mais estreitas aproveitaram para se pôr
a andar. Ou não lhes falta nada ou não pagaram os bilhetes, mas também pode ter
sido o som, que nos fundos do Meo Arena nunca foi muito famoso e, segundo o que
ouvi dizer, não se percebeu nada do que o Mané disse.
Depois de um momento de energia
musical frenética, as luzes apagaram-se e Seu Jorge aparece só com a sua
guitarra, um microfone e um banquinho. Entre “Brasis”, “Life on Mars”, uma
versão de um tema de David Bowie do filme “The Life Aquatic” e “Problema Social”,
Seu Jorge sacou a primeira ovação do público quando deu os primeiros acordes e
cantou “Pretinha…”. “São Gonça” foi a primeira a arrancar um coro afinado do
público, que concluiu a música com o verso “Ma você crê se quiser”. Mas não
tardou a arrancar outro coro ainda mais enérgico quando cantou “É Isso Aí”, que
o pavilhão cantou em uníssono. Depois desse momento Seu Jorge esteve um
bocadinho à conversa connosco e agradeceu por, mesmo em momento de crise,
estarmos ali para o ouvir e ver. Falou em nome do seu país e disse que são
solidários para com a situação que o Portugal atravessa e que tem fé que termine brevemente.
Vai-se o banquinho e volta a
banda, o pé volta a mexer com “Mania de peitão” e a já esperada “Amiga da minha
mulher”, que serviu de bandeira a esta pequena digressão. Depois foi a vez de “Tive
Razão” tirar uns coros da plateia, que até trautearam os primeiros acordes. Entretanto
tivemos virtuosidade musical a expirar do “Conjuntão Pesadão”, que correu Led
Zeppelin e Bowie, reggeazada e solos a rebentar pelas costuras. Para acabar o
truque, presenteou a malta com “Carolina” e “Burguesinha”. Com isto pirou-se e
deixou o povo a pedir só mais uma. Respondeu com um Encore que trouxe “Mais Que
Nada”, de Jorge Ben Jor, mas antes pegou no seu smartphone e filmou a ovação do
público “para levar para casa e mostrar aos meus filhos” disse o Mané. “Pastelzinho
de Belém” foi um tributo a Lisboa que nem sei se teria mesmo este nome, mas era
o que se fazia ouvir, e foi o momento hilariante da noite em tom de despedida.
Enquanto os músicos se retiravam e acenavam ao público iam dançando ao som de "On
The Beat" dos B.B. & Q. Band.
Tiago Bettencourt abriu o concerto de Seu Jorge e, com
o tempo apertado, conseguiu concentrar um grande concerto de abertura em poucos
temas como “Laços”, “O Jogo”, “Carta” e ainda a versão de “Pó de Arroz”, de
Carlos Paião. Acabou de forma triunfal e deixou-me de boca aberta com “Eu
Esperei”, um apelo aos portugueses, e saiu do palco a desejar ter assim tanta
gente quando desse um concerto em nome próprio. Eu cá saí da plateia mais que satisfeito
com a prestação do Seu Jorge mas a pensar que tinha de acordar “Daqui a bocado”
e quando acordei só me lembrava de uma música do concerto “É ruim acordar de
madrugada/pra vender bala no trém/Se eu pudesse tocava em meu destino/hoje eu
seria alguém”.
Um dos momentos mais bonitos da noite. Como não há vídeos com qualidade do concerto de Lisboa fica este, ao lado de Caetano Veloso, grande momento da música brasileira.
É importante deixar claro que vou chamar palavrão a alguns
conceitos que são dignos e que à primeira vista não merecem estar nesta lista.
Mas a verdade é que a essência de alguns deles foi totalmente corrompida e
tornaram-se ferramentas ao serviço da malta do chicote. É o caso da
pro-actividade, uma virtude da pessoa competente que, tanto quanto compreendo
do conceito, produz e toma iniciativa de fazer, sem ser preciso que lhe seja
ordenado.
Até aqui tudo bem. Aliás, gente incompetente a trabalhar
há muita por aí, e quem tem as características de um trabalhador não pertencente
a este nicho, que existe numa escala que quase ultrapassa essa designação, deve
orgulhar-se de ser pró-activo. Agora, a porca torce o rabo quando este conceito
é usado pelo homem do chicote para se poder encostar e responsabilizar o
empregado pró-activo por tudo. Para além disso, o conceito, nos dias que
correm, serve mais para obrigar o macaco a fazer mais do que aquilo que é de
sua competência.
Para além disso, é bonito ver a transformação do que é uma virtude de um
estilo de vida saudável, em que uma pessoa faz acontecer, toma iniciativa e
aprende com os erros, em vez de apenas reagir ao que vai acontecendo, num item
de requisitos mínimos em anúncios de emprego pré-formatados que tanto servem
para quem vai assentar tijolo como para quem vai ser director seja lá do que
for, a par com outros tantos como a dinâmica e a experiência-de-pelo-menos-1-ano.
Ghandi viveu cada dia como se fosse morrer no seguinte e aprendeu cada coisa como
se fosse viver para sempre, ou pelo menos usava isso como frase bonita, mas
para mim isso resume o que é a verdadeira pro-actividade: um género de Carpe
Diem com perspectivas. Parece quase que só quero marrar com o mercado de
trabalho, mas não vai ser esse o futuro desta série, embora a maioria das
coisas que me põem os cabelinhos em pé sejam os patrões e as suas cantigas.
Da mente de Rob Zombie, o músico de metal que se tornou
realizador de terror, espera-se o melhor. Desta vez o maestro presenteou o
público com “The Lords of Salem”, que nos conta a história de Heidi, uma
apresentadora de rádio em Salem, protagonizada pela sua esposa, Sheri Moon
Zombie. Heidi recebe uma caixa de madeira com um disco e um pedido para passar
a música no seu programa. Quando a agulha finalmente toca no vinil, os sons que
se fazem ouvir despertam na apresentadora memórias do violento passado de
Salem, as bruxas e os seus planos de trazerem ao mundo o filho do diabo, e a
sua condenação. O filme desenvolve-se com a dúvida de Heidi. Estará a ficar
louca, ou as bruxas regressaram para se vingarem dos seus carrascos?
“House of a Thousand Corpses” e “The Devil’s Rejects”
deram-me a conhecer o trabalho de Rob Zombie, e ainda hoje os considero parte
da razão porque sou tão fã da categoria. Depois veio a sua visão da saga
“Halloween” e de Michael Myers, e aí foi a verdadeira confirmação de que estava
perante um mestre do terror. Em “The Lords of Salem” estava preparado para um
momento muito mais criativo e pessoal de Zombie, que se inspirou nas suas
raízes para nos trazer esta obra. A crítica está dividida entre o péssimo e o
genial, mas todos estão unidos na opinião que os sustos não são o ponto forte
do filme. Nesse aspecto concordo com a maioria dos críticos. Quando vejo
comédias exijo que me façam rir, já quando vejo terror não acho que o susto
seja um factor indispensável. O que me interessa neste género são os ambientes,
a riqueza das personagens e do enredo e o peso psicológico que fica impresso
depois do filme. Os cagaços e o gore também são bonitos de se ver, mas quando a
cortina cai e as luzes acendem não fica nada. Em “The Lords of Salem” não há
gore ou cagaços. Rob Zombie está no seu melhor, vai mais longe que o susto
superficial e quase nos convence que estamos a ficar loucos. É assim que saímos
do cinema ainda incomodados com o que acabámos de ver, e vamos o caminho todo
para casa a remoer aquilo.
As cenas que remetem ao passado de Salem são
arrepiantes e a imagem deixou-me estático. Ao longo do filme as visões e
distúrbios de Heidi tornam-se cada vez mais intensos, o que mantém a tensão por
todo o filme. Á medida que Dr. Loomis, um dos convidados do programa de rádio
que ouviu o disco, descobre a relação entre a apresentadora e o velho culto de
bruxas, todo o enredo entra numa espiral alucinatória que no fim me deixou de
boca aberta. Não digo que esta
anti-metáfora com uma anti-virgem não tenha alucinado de mais, e por vezes
fiquei demasiado incrédulo para apreciar a obra no seu todo, mas uma segunda
visita fez mais sentido. No final, esta é uma obra que, sendo criativamente
liberal, nos deixa embebidos no ambiente negro que lentamente constrói, desde o
conventículo, passando pelo apartamento 5 e acabando na pilha de corpos que lhe
serve de pedestal, vale a pena a espreitadela mesmo para os mais cépticos.
Forever more!
O pesadelo de qualquer
recém-formado que queira ingressar no mercado de trabalho e um tipo de chulice
institucionalizada que dá o direito aos empregadores de escravizarem legalmente.
Num país que foi pioneiro no abolicionismo (o verdadeiro e não as suas
variantes de campanha) não sei se me parece estranho ou não que a escravidão
comece a regressar. Por um lado deveríamos ter a posição de repúdio pela
escravatura a manter, por outro até compreendo que aos empregadores seja um
processo necessário e que, já que a escravatura descarada é ilegal, se criem
máscaras legais para uma coisa que não deixa de ser o que é.
A verdade é que, tirando os chicotes,
as roupas sujas e as senzalas, quem trabalha sem receber um tostão acaba por
sentir que vai dar ao mesmo. Não me choca muito que as entidades empregadoras
precisem de saber o que um trabalhador vale antes de se comprometerem
definitivamente, embora um mês seja mais que suficiente para isso. Pelo
contrário, qualquer jovem talento perde o ânimo e torna-se menos produtivo ao
fim de seis meses sem qualquer compensação. Vá lá, vá lá, volta e meia há um
patrão benfeitor que disponibiliza uma espécie de subsídio para as deslocações,
pelo que os felizes contemplados se habituaram a dizer “já não tá mau”. É aqui
que se vê o dilema: precisamos da oportunidade, mesmo nestas condições, para
acumular experiência e entrar no mercado, mas enquanto não nos negarmos, no
geral, a este tipo de condições de emprego, os patrões vão continuar o esquema
do “3/6 meses não remunerado-palmadinha nas costas-obrigadinho-venha outro, que
a fila é longa” e no meio deste “chove, não molha” a malta toma como inevitável
e correto o que é uma valente filh$%+#£!@&tice.
Mas esta rosa não são só
espinhos. Já dizia o Molinaire, um macaco amestrado é tão produtivo como 10
macacos livres (não parafraseando) e se não fossem os escravos não havia
pirâmides de Gizé, de Teotihuacan ou o Convento de Mafra. Se temos monumentos
bonitos e ténis de marca temos muito que agradecer a quem andou horas de
chicote na mão. E agora, com a vossa licença, vou trabalhar antes que seja
açoitado.
O projecto intitulado “Trafaria Praia”, de Joana Vasconcelos, foi o
pavilhão mais visitado da Bienal de Veneza. Cerca de 60.000 pessoas já
visitaram a embarcação que foi criada pela artista para representar o nosso
país na 55ª edição desta exposição internacional de arte. Como conhecedor deste
velho cacilheiro, louvo a artista por ter respeitado a história do navio, como
o seu nome e as suas cores, e ainda o ter elevado a obra de arte. O cacilheiro
vai estar em “La Sereníssima Cittá da Venezia” até ao
final de Novembro.
O cacilheiro, que para além de
ter o papel de pavilhão representante de Portugal é uma obra de arte em si,
exibe a toda a sua volta um painel de azulejos que foi mostrar ao mundo a
frente ribeirinha de lisboa, da barra ao estuário, apresentando um grande
panorama da cidade vista do rio. O seu interior foi revestido a cortiça nos
níveis superiores e é composto por peças no mesmo material. No convés foi
criada uma atmosfera uterina, a lembrar o fundo do mar, com têxteis
interligados num extenso patchwork com vários tipos de ponto, com diversas
formas, em tons de azul, com LED’s incorporados na sua malha. A larga varanda do piso superior
recebe a maioria dos eventos, como vários concertos e debates, onde já cantou a
artista portuguesa, Ana Moura. O impacto da obra foi tal que a editora Babel já
publicou o livro “Joana Vasconcelos: Trafaria Praia”, onde é explicado que o
projecto analisa a relação histórica entre Portugal e Itália, que se
desenvolveu através do comércio, da diplomacia e da arte e que as duas cidades
desempenharam papéis fundamentais na expansão da visão do mundo europeia
durante a Idade Média e o Renascimento, redefinindo a imago mundi através do
estabelecimento de redes entre o Ocidente e o Oriente.
Para além disso, a projecção que
este projecto trouxe à já emblemática carreira de Joana Vasconcelos, que é conhecida por transformar símbolos populares portugueses em peças completamente modernas, usando objectos do quotidiano. Joana teve
recentemente, no Palácio de Queluz, uma das exposições mais visitadas do país nos últimos anos,
levou-a a abraçar um novo projecto. Joana Vasconcelos quer inaugurar uma
fundação que reúna as suas obras e as obras de outros aritstas com que
colaborou, assim como criar bolsas de estudo para estudantes de arte. Com esta fundação, a artista
quer atingir o estatuto de organização de utilidade pública, tendo que, para
isso, ter um funcionamento efectivo e relevante durante, pelo menos, três anos. Velho Cacilheiro
“Os cacilheiros são barcos que
ligam as duas margens do rio Tejo. Como o próprio nome indica, partem de
Cacilhas, em Almada, com destino a Lisboa. Outrora, existiram barcos
cacilheiros que partiam do Seixal, Montijo, Barreiro, Trafaria e Porto Brandão,
actualmente substituídos pelos modernos Catamarans. Todos estes barcos
pertencem às empresas Transtejo e Soflusa. Até à construção da Ponte sobre o
Tejo (inaugurada a 6 de Agosto de 1966) era a única ligação entre as duas
margens do Tejo, em Lisboa”. Esta é a descrição que se pode encontrar no maior
aglomerador de factos da internet, mas que nem sempre estão correctamente
apurados, o Wikipedia. O Cacilheiro sempre transportou, maioritariamente,
habitantes da Margem Sul que trabalham em Lisboa, tornando-se assim num ícone
da classe operária e da classe média, ganhando com os anos o estatuto de
atracção turística. Os clássicos Cacilheiros, como o Trafaria Praia, há muito
que foram substituídos pelos seus irmãos mais modernos na travessia entre
Cacilhas e o Cais do Sodré. Os Catamarans só chegaram para acelerar as
travessias mais longas, pelo estuário, até ao Barreiro, Seixal e Montijo. A
travessia Belém-Porto Brandão-Trafaria é que foi a última a ser actualizada e
só disse adeus aos clássicos, definitivamente, em 2009.
Foi nessa travessia que o Trafaria
Praia fez as suas últimas carreiras, até 2008. Juntamente com os irmãos gémeos,
o Mouraria, o Marvila e o Castelo, que foram construídos em estaleiros alemães
e fazem parte de uma série de 5 navios, formam a equipa dos clássicos. O
Mouraria continuou a zarpar de Belém até 2009, O Trafaria Praia este encostado
até á sua famosa recuperação, o Marvila faz passeios no Tejo mas também dá as
últimas, o Castelo faz passeios no Douro com outro nome e o quinto não consegui
apurar nem o nome nem o que foi feito dele. Sei que há um barco, dos mais
antigos, que foi transformado em restaurante e está no Seixal, mas não consegui
saber o seu nome. Os irmãos do meio, que entraram
ao serviço em 1980, são os navios Campolide, Dafundo, Palmelense, Seixalense e
Sintrense, que pertencem à Classe Cacilhense. Foram construídos pelo Estaleiro
FOZNAVE, na Figueira da Foz, pelo Estaleiro Argibay, em Alverca e pelo
Estaleiro Naval de São Jacinto e têm capacidade para 476 passageiros
distribuídos por quatro salões com instalações sanitárias. A partir de 2003
entraram para a frota os irmãos mais novos, os Catamarans Damião de Goes,
Augusto Gil, Miguel Torga, Fernando Namora, Gil Vicente, Jorge de Sena, Almeida
Garrett, Fernando Pessoa e Antero de Quental, assim como o Fantasia, que só faz
passeios turísticos e é o único que tem um espaço ao ar livre aberto aos
passageiros.
Sempre gostei de viajar nos Cacilheiros clássicos.
Quando comecei a estudar em Lisboa dava por mim a voltar para casa pelo caminho
mais demorado, só para evitar os barcos da classe Cacilhense, e ir por Belém,
para poder fazer a viagem no Trafaria Praia ou no Mouraria. Embora o meu
destino fosse a Trafaria, devido aos horários muito espaçados demorava sempre
mais tempo do que se fosse por Cacilhas, mas já que perco tanto tempo em
viagens entre Margem Sul e Lisboa, gosto de o fazer com qualidade. A
recuperação do Trafaria Praia pela artista Joana Vasconcelos alegrou-me pela
transformação de um barco que sempre gostei em obra de arte. Mas entristeceu-me
pensar que o objectivo das empresas de transportes públicos têm, cada vez mais,
os seus serviços optimizados para o lucro e para enfiar o maior número de
passageiros possível dentro dos seus transportes e, cada vez menos, para a
qualidade das viagens. Sempre fui contra o fim do funcionamento dos cacilheiros
mais antigos, que proporcionavam uma viagem muito mais bonita, agradável e
confortável, mas entendi que já não teriam condições para fazer carreiras.
Agora vejo que a sua recuperação é perfeitamente possível e que podem ficar
ainda melhores do que seriam. Não digo que todos fossem transformados da mesma
forma que o Trafaria Praia, que se trata de um contexto muito específico, mas a
sua reabilitação para voltar ás carreiras seria do agrado de todos os utentes,
até porque as travessias entre Belém e a Trafaria são mais longas e, por isso,
permitem disfrutar da viagem enquanto passeio e não só como deslocação. Para
além disso, o volume de passageiros nessa carreira não justifica a optimização
da frota para transportar um vasto número de passageiros. Infelizmente para os
utentes, as implicações económicas não permitem esse tipo de progresso, e
assim, o velho Cacilheiro é elevado a atracção turística ou artística, não
tirando o mérito a quem o recupera nesse sentido, mas fica fora do alcance de quem
mais o usou, os passageiros.
Entre guitarradas icónicas e outras que só soam bem nalgumas cabeças, estes são os meus 10. Quem me dera conhecer todos os solos do mundo e ter mestria para os catalogar por nível de qualidade. Esta escolha não se trata de nada disso. É uma selecção baseada simplesmente nos meus gostos, mas acreditem que não é assim tão fácil, muita coisa bonita ficou de fora, já que 10 é um número bastante limitado, tendo em conta este universo. A outra dificuldade é colocá-los por ordem decrescente. Vou só mostrar os solos, sempre que o Youtube me permitir, quando não permitir digo o minuto em que o solo começa, no entanto, os solos fazem muito mais sentido inseridos no seu contexto musical, por isso, se vos interessar, explorem. Bem... sem mais desculpas, vamos a isso. Se os meus milhares de leitores não acharem justa esta lista comentem por aqui e pelo Facebook, à vontade, e deixem as vossas sugestões.
DEZ. Electric Ligth Orchestra - Mr. Blue Sky
Foi a minha devoção pelo Doctor Who que me apresentou esta banda e descobri que são quase tão acarinhados pelos britânicos como os Beatles. Não sou grande seguidor do seu trabalho mas esta música é especial. O nome não é aleatório, esta música deixa mesmo o céu mais azul para quem a está a ouvir. Energia positiva aqui! Solo aos 1:00.
NOVE. Queens Of The Stone Age - Skin On Skin
Podia fazer um TOP50, ou mais, só com solos destes senhores, mas para as ambições desta lista seria injusto inundar com QOTSA. Sigo esta banda desde que ouvi o "No One Knows" e nunca me deixaram mal, este foi um dos momentos em que a música me entrou por baixo da pele e empurrou os pelinhos para cima. Solo aos 1:25.
OITO. Jimmy Hendrix - All Along The Watch Tower
O Jimmy não podia deixar de fazer parte desta lista, já que o considero um dos melhores guitarristas do mundo. Embora goste de todo o seu trabalho, esta versão do tema de Bob Dylan toca-me particularmente. Já estou a imaginar os eruditos da música a irem aos fagotes com a posição na lista, mas eu não vos devo justificações!!! EHEH!
SETE. Pink Floyd - Shine On You Crazy Diamond
Também não podia deixar de ser. Roger Waters, Richard Wright e David Gilmour criaram esta obra prima, que não podia isolar num solo apenas, já que toda a música é uma combinação de nove peças, e cada segundo é um momento virtuoso.
SEIS. Queen - Bohemian Rahpsody
Ora! Quem já não trauteou o solo desta obra prima? Para mim é impossível não ser contagiado pela energia que esta guitarrada transmite. É um marco icónico da música internacional, não só o solo mas como toda a composição. Solo aos 1:30
CINCO. Michael Jackson - Beat It
Esta foi das minhas primeiras experiências de Rock. Tinha a cassete VHS do "History" com os vídeos todos, e adorava rebobinar e ouvir este momento vezes sem conta. Ficou entranhado e nunca saiu. É um ícone do Rock, produzido por Quincy Jones, solo composto por Eddie Van Halen e, aqui, interpretado por Orianthi Panagaris, a guitarrista australiana que acompanhou o MJ na sua última tour, "This Is It!".
QUATRO. Queens Of The Stone Age - Little Sister
Não queria repetir artistas, mas não resisti e nem estaria a ser fiel ás minhas convicções. Josh Homme põe-me sempre a abanar o capacete e este é aquele momento que não cansa. É um single do álbum "Lullabies to Paralyze", mas não corresponde ao mito de que o single é sempre a música mais fraquinha do álbum.
TRÊS. Lynyrd Skynyrd - Free Bird
Não conhecia estes senhores para além de "Sweet home Alabama", até ter visto o filme "Devil's Rejects", de Rob Zombie, a partir daí soube que este era um dos melhores solos de sempre.
DOIS. Red Hot Chili Peppers - Scar Tissue
Chega a vez da banda que abriu o mundo do rock para os meus ouvidos. O que vou dizer é muito difícil de avaliar, porque mesmo os meus gostos são flutuantes, mas "Scar Tissue" é uma constante e é, provavelmente, o meu tema preferido de sempre! A maneira como John Frusciante e o Flea se complementam entre guitarra e solo é sempre arrepiante, não importa quantas vezes ouça esta música. E só por isso, vou mostrar uma série de solos ao vivo, que são sempre pérolas únicas.
UNO! Red Hot Chili Peppers - Dani California
Não há momento musical que mexa mais comigo do que o solo deste tema. John Frusciante é eximio, e este resultado final é, com certeza, influenciado pelo facto de este ser o meu guitarrista nº1. Esta banda quase terminou e sofreu perdas para a heroína. Frusciante foi um dos mais afectados (ou o que mais se afectou), mas renasceu, qual Fénix, para se tornar o mestre da guitarra. Cada solo que toca ao vivo é único e essa é a magia de ver Red Hot em concerto.
Estiveram para entrar na lista outros tantos, como o solo da recente "Instant Crush" dos Daft Punk, "Keep The Devil Down", de North Mississipi All Stars, "Taste It", de Jake Bugg e "Touch From Your Lust" de Ben Harper. Entre estas há muitos solos que me dão arrepios, mas acho que a lista corresponde em ás minha convicções. Para vos mostrar todos tinha que fazer, pelo menos, um TOP50, e para isso ninguém tem paciência para me aturar.