terça-feira, 8 de outubro de 2013

Palavrões do Séc. XXI: Não-Remunerado

Episódio Piloto da série "Palavrões do Séc. XXI".

De Jean-Baptiste Debret


O pesadelo de qualquer recém-formado que queira ingressar no mercado de trabalho e um tipo de chulice institucionalizada que dá o direito aos empregadores de escravizarem legalmente. Num país que foi pioneiro no abolicionismo (o verdadeiro e não as suas variantes de campanha) não sei se me parece estranho ou não que a escravidão comece a regressar. Por um lado deveríamos ter a posição de repúdio pela escravatura a manter, por outro até compreendo que aos empregadores seja um processo necessário e que, já que a escravatura descarada é ilegal, se criem máscaras legais para uma coisa que não deixa de ser o que é.

A verdade é que, tirando os chicotes, as roupas sujas e as senzalas, quem trabalha sem receber um tostão acaba por sentir que vai dar ao mesmo. Não me choca muito que as entidades empregadoras precisem de saber o que um trabalhador vale antes de se comprometerem definitivamente, embora um mês seja mais que suficiente para isso. Pelo contrário, qualquer jovem talento perde o ânimo e torna-se menos produtivo ao fim de seis meses sem qualquer compensação. Vá lá, vá lá, volta e meia há um patrão benfeitor que disponibiliza uma espécie de subsídio para as deslocações, pelo que os felizes contemplados se habituaram a dizer “já não tá mau”. É aqui que se vê o dilema: precisamos da oportunidade, mesmo nestas condições, para acumular experiência e entrar no mercado, mas enquanto não nos negarmos, no geral, a este tipo de condições de emprego, os patrões vão continuar o esquema do “3/6 meses não remunerado-palmadinha nas costas-obrigadinho-venha outro, que a fila é longa” e no meio deste “chove, não molha” a malta toma como inevitável e correto o que é uma valente filh$%+#£!@&tice.


Mas esta rosa não são só espinhos. Já dizia o Molinaire, um macaco amestrado é tão produtivo como 10 macacos livres (não parafraseando) e se não fossem os escravos não havia pirâmides de Gizé, de Teotihuacan ou o Convento de Mafra. Se temos monumentos bonitos e ténis de marca temos muito que agradecer a quem andou horas de chicote na mão. E agora, com a vossa licença, vou trabalhar antes que seja açoitado.

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