Episódio Piloto da série "Palavrões do Séc. XXI".
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De Jean-Baptiste Debret |
O pesadelo de qualquer
recém-formado que queira ingressar no mercado de trabalho e um tipo de chulice
institucionalizada que dá o direito aos empregadores de escravizarem legalmente.
Num país que foi pioneiro no abolicionismo (o verdadeiro e não as suas
variantes de campanha) não sei se me parece estranho ou não que a escravidão
comece a regressar. Por um lado deveríamos ter a posição de repúdio pela
escravatura a manter, por outro até compreendo que aos empregadores seja um
processo necessário e que, já que a escravatura descarada é ilegal, se criem
máscaras legais para uma coisa que não deixa de ser o que é.
A verdade é que, tirando os chicotes,
as roupas sujas e as senzalas, quem trabalha sem receber um tostão acaba por
sentir que vai dar ao mesmo. Não me choca muito que as entidades empregadoras
precisem de saber o que um trabalhador vale antes de se comprometerem
definitivamente, embora um mês seja mais que suficiente para isso. Pelo
contrário, qualquer jovem talento perde o ânimo e torna-se menos produtivo ao
fim de seis meses sem qualquer compensação. Vá lá, vá lá, volta e meia há um
patrão benfeitor que disponibiliza uma espécie de subsídio para as deslocações,
pelo que os felizes contemplados se habituaram a dizer “já não tá mau”. É aqui
que se vê o dilema: precisamos da oportunidade, mesmo nestas condições, para
acumular experiência e entrar no mercado, mas enquanto não nos negarmos, no
geral, a este tipo de condições de emprego, os patrões vão continuar o esquema
do “3/6 meses não remunerado-palmadinha nas costas-obrigadinho-venha outro, que
a fila é longa” e no meio deste “chove, não molha” a malta toma como inevitável
e correto o que é uma valente filh$%+#£!@&tice.
Mas esta rosa não são só
espinhos. Já dizia o Molinaire, um macaco amestrado é tão produtivo como 10
macacos livres (não parafraseando) e se não fossem os escravos não havia
pirâmides de Gizé, de Teotihuacan ou o Convento de Mafra. Se temos monumentos
bonitos e ténis de marca temos muito que agradecer a quem andou horas de
chicote na mão. E agora, com a vossa licença, vou trabalhar antes que seja
açoitado.
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