Chegada à Bienal de Veneza |
O cacilheiro, que para além de
ter o papel de pavilhão representante de Portugal é uma obra de arte em si,
exibe a toda a sua volta um painel de azulejos que foi mostrar ao mundo a
frente ribeirinha de lisboa, da barra ao estuário, apresentando um grande
panorama da cidade vista do rio. O seu interior foi revestido a cortiça nos
níveis superiores e é composto por peças no mesmo material. No convés foi
criada uma atmosfera uterina, a lembrar o fundo do mar, com têxteis
interligados num extenso patchwork com vários tipos de ponto, com diversas
formas, em tons de azul, com LED’s incorporados na sua malha. A larga varanda do piso superior
recebe a maioria dos eventos, como vários concertos e debates, onde já cantou a
artista portuguesa, Ana Moura. O impacto da obra foi tal que a editora Babel já
publicou o livro “Joana Vasconcelos: Trafaria Praia”, onde é explicado que o
projecto analisa a relação histórica entre Portugal e Itália, que se
desenvolveu através do comércio, da diplomacia e da arte e que as duas cidades
desempenharam papéis fundamentais na expansão da visão do mundo europeia
durante a Idade Média e o Renascimento, redefinindo a imago mundi através do
estabelecimento de redes entre o Ocidente e o Oriente.
Para além disso, a projecção que este projecto trouxe à já emblemática carreira de Joana Vasconcelos, que é conhecida por transformar símbolos populares portugueses em peças completamente modernas, usando objectos do quotidiano. Joana teve recentemente, no Palácio de Queluz, uma das exposições mais visitadas do país nos últimos anos, levou-a a abraçar um novo projecto. Joana Vasconcelos quer inaugurar uma fundação que reúna as suas obras e as obras de outros aritstas com que colaborou, assim como criar bolsas de estudo para estudantes de arte. Com esta fundação, a artista quer atingir o estatuto de organização de utilidade pública, tendo que, para isso, ter um funcionamento efectivo e relevante durante, pelo menos, três anos.
Velho Cacilheiro
“Os cacilheiros são barcos que
ligam as duas margens do rio Tejo. Como o próprio nome indica, partem de
Cacilhas, em Almada, com destino a Lisboa. Outrora, existiram barcos
cacilheiros que partiam do Seixal, Montijo, Barreiro, Trafaria e Porto Brandão,
actualmente substituídos pelos modernos Catamarans. Todos estes barcos
pertencem às empresas Transtejo e Soflusa. Até à construção da Ponte sobre o
Tejo (inaugurada a 6 de Agosto de 1966) era a única ligação entre as duas
margens do Tejo, em Lisboa”. Esta é a descrição que se pode encontrar no maior
aglomerador de factos da internet, mas que nem sempre estão correctamente
apurados, o Wikipedia. O Cacilheiro sempre transportou, maioritariamente,
habitantes da Margem Sul que trabalham em Lisboa, tornando-se assim num ícone
da classe operária e da classe média, ganhando com os anos o estatuto de
atracção turística. Os clássicos Cacilheiros, como o Trafaria Praia, há muito
que foram substituídos pelos seus irmãos mais modernos na travessia entre
Cacilhas e o Cais do Sodré. Os Catamarans só chegaram para acelerar as
travessias mais longas, pelo estuário, até ao Barreiro, Seixal e Montijo. A
travessia Belém-Porto Brandão-Trafaria é que foi a última a ser actualizada e
só disse adeus aos clássicos, definitivamente, em 2009.
Foi nessa travessia que o Trafaria
Praia fez as suas últimas carreiras, até 2008. Juntamente com os irmãos gémeos,
o Mouraria, o Marvila e o Castelo, que foram construídos em estaleiros alemães
e fazem parte de uma série de 5 navios, formam a equipa dos clássicos. O
Mouraria continuou a zarpar de Belém até 2009, O Trafaria Praia este encostado
até á sua famosa recuperação, o Marvila faz passeios no Tejo mas também dá as
últimas, o Castelo faz passeios no Douro com outro nome e o quinto não consegui
apurar nem o nome nem o que foi feito dele. Sei que há um barco, dos mais
antigos, que foi transformado em restaurante e está no Seixal, mas não consegui
saber o seu nome. Os irmãos do meio, que entraram
ao serviço em 1980, são os navios Campolide, Dafundo, Palmelense, Seixalense e
Sintrense, que pertencem à Classe Cacilhense. Foram construídos pelo Estaleiro
FOZNAVE, na Figueira da Foz, pelo Estaleiro Argibay, em Alverca e pelo
Estaleiro Naval de São Jacinto e têm capacidade para 476 passageiros
distribuídos por quatro salões com instalações sanitárias. A partir de 2003
entraram para a frota os irmãos mais novos, os Catamarans Damião de Goes,
Augusto Gil, Miguel Torga, Fernando Namora, Gil Vicente, Jorge de Sena, Almeida
Garrett, Fernando Pessoa e Antero de Quental, assim como o Fantasia, que só faz
passeios turísticos e é o único que tem um espaço ao ar livre aberto aos
passageiros.
Sempre gostei de viajar nos Cacilheiros clássicos.
Quando comecei a estudar em Lisboa dava por mim a voltar para casa pelo caminho
mais demorado, só para evitar os barcos da classe Cacilhense, e ir por Belém,
para poder fazer a viagem no Trafaria Praia ou no Mouraria. Embora o meu
destino fosse a Trafaria, devido aos horários muito espaçados demorava sempre
mais tempo do que se fosse por Cacilhas, mas já que perco tanto tempo em
viagens entre Margem Sul e Lisboa, gosto de o fazer com qualidade. A
recuperação do Trafaria Praia pela artista Joana Vasconcelos alegrou-me pela
transformação de um barco que sempre gostei em obra de arte. Mas entristeceu-me
pensar que o objectivo das empresas de transportes públicos têm, cada vez mais,
os seus serviços optimizados para o lucro e para enfiar o maior número de
passageiros possível dentro dos seus transportes e, cada vez menos, para a
qualidade das viagens. Sempre fui contra o fim do funcionamento dos cacilheiros
mais antigos, que proporcionavam uma viagem muito mais bonita, agradável e
confortável, mas entendi que já não teriam condições para fazer carreiras.
Agora vejo que a sua recuperação é perfeitamente possível e que podem ficar
ainda melhores do que seriam. Não digo que todos fossem transformados da mesma
forma que o Trafaria Praia, que se trata de um contexto muito específico, mas a
sua reabilitação para voltar ás carreiras seria do agrado de todos os utentes,
até porque as travessias entre Belém e a Trafaria são mais longas e, por isso,
permitem disfrutar da viagem enquanto passeio e não só como deslocação. Para
além disso, o volume de passageiros nessa carreira não justifica a optimização
da frota para transportar um vasto número de passageiros. Infelizmente para os
utentes, as implicações económicas não permitem esse tipo de progresso, e
assim, o velho Cacilheiro é elevado a atracção turística ou artística, não
tirando o mérito a quem o recupera nesse sentido, mas fica fora do alcance de quem
mais o usou, os passageiros.
Muito bom texto- parabéns.Beijinho
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