terça-feira, 15 de outubro de 2013

Seu Jorge Liga Brasil/Lisboa


Seu Jorge fechou em grande a sua visita a Portugal, com três concertos em Portimão, Guimarães e Lisboa. No ex-Pavilhão Atlântico, que virou Meo Arena, o Mané Galinha encheu a casa e animou a malta por mais de duas horas. Acompanhado pelo “Conjuntão Pesadão”, passou do pézinho de dança, pelas baladas de amor e desamor, à introspecção social acabando em rockalhada e pastéis de Belém.

O “Conjuntão Pesadão” entrou em palco com largos minutos de atraso e com a plateia a desesperar, depois do calor deixado por Tiago Bettencourt começar a dissipar. Os músicos apresentaram-se e finalmente: “Seu Jorge!!!”, que começou em altas com «Alma de Guerreiro», música feita de propósito para a novela brasileira «Salve Jorge» que, nem a propósito, começa com “Jorge vem de lá da Capadócia, montado em seu cavalo”. Pés e vozes levantam-se com uma versão um pouco diferente da de estúdio de “Mina do Condomínio” do álbum “América Brasil”. Aliás, o Mané condensou bem a sua década e picos de carreira neste concerto e logo a seguir “Chega no swingue” que veio dar o que dançar em viagem no tempo até ao seu primeiro álbum “Samba Esporte Fino”.

Ainda tivemos direito a “Pessoal Particular” antes de ficar muito calor na sala e Seu Jorge acalmar as hostes com "Quem não quer sou eu", ambas do mais recente “Músicas para churrasco Vol.1” e é aqui que começam os beijinhos pela plateia e balcões. Antes que a coisa rolasse mais do que devia, Seu Jorge declama “Zé do Caroço”, de Leci Brandão, e “Negro Drama”, dos Racionais Mc’s. Seu Jorge viveu na rua durante três anos, só com a sua guitarra, e conhece bem a realidade das favelas, por isso não foi surpresa que fossem declamadas estas músicas pela profunda voz do Mané Galinha, que juntam o clamor da necessidade de um líder nas favelas e uma crítica sobre a exclusão dos pretos no Brasil. Infelizmente foi o momento em que alguns clientes mais exigentes ou com vontades mais estreitas aproveitaram para se pôr a andar. Ou não lhes falta nada ou não pagaram os bilhetes, mas também pode ter sido o som, que nos fundos do Meo Arena nunca foi muito famoso e, segundo o que ouvi dizer, não se percebeu nada do que o Mané disse.

Depois de um momento de energia musical frenética, as luzes apagaram-se e Seu Jorge aparece só com a sua guitarra, um microfone e um banquinho. Entre “Brasis”, “Life on Mars”, uma versão de um tema de David Bowie do filme “The Life Aquatic” e “Problema Social”, Seu Jorge sacou a primeira ovação do público quando deu os primeiros acordes e cantou “Pretinha…”. “São Gonça” foi a primeira a arrancar um coro afinado do público, que concluiu a música com o verso “Ma você crê se quiser”. Mas não tardou a arrancar outro coro ainda mais enérgico quando cantou “É Isso Aí”, que o pavilhão cantou em uníssono. Depois desse momento Seu Jorge esteve um bocadinho à conversa connosco e agradeceu por, mesmo em momento de crise, estarmos ali para o ouvir e ver. Falou em nome do seu país e disse que são solidários para com a situação que o Portugal atravessa e que tem fé que termine brevemente.

Vai-se o banquinho e volta a banda, o pé volta a mexer com “Mania de peitão” e a já esperada “Amiga da minha mulher”, que serviu de bandeira a esta pequena digressão. Depois foi a vez de “Tive Razão” tirar uns coros da plateia, que até trautearam os primeiros acordes. Entretanto tivemos virtuosidade musical a expirar do “Conjuntão Pesadão”, que correu Led Zeppelin e Bowie, reggeazada e solos a rebentar pelas costuras. Para acabar o truque, presenteou a malta com “Carolina” e “Burguesinha”. Com isto pirou-se e deixou o povo a pedir só mais uma. Respondeu com um Encore que trouxe “Mais Que Nada”, de Jorge Ben Jor, mas antes pegou no seu smartphone e filmou a ovação do público “para levar para casa e mostrar aos meus filhos” disse o Mané. “Pastelzinho de Belém” foi um tributo a Lisboa que nem sei se teria mesmo este nome, mas era o que se fazia ouvir, e foi o momento hilariante da noite em tom de despedida. Enquanto os músicos se retiravam e acenavam ao público iam dançando ao som de "On The Beat" dos B.B. & Q. Band.

Tiago Bettencourt abriu o concerto de Seu Jorge e, com o tempo apertado, conseguiu concentrar um grande concerto de abertura em poucos temas como “Laços”, “O Jogo”, “Carta” e ainda a versão de “Pó de Arroz”, de Carlos Paião. Acabou de forma triunfal e deixou-me de boca aberta com “Eu Esperei”, um apelo aos portugueses, e saiu do palco a desejar ter assim tanta gente quando desse um concerto em nome próprio. Eu cá saí da plateia mais que satisfeito com a prestação do Seu Jorge mas a pensar que tinha de acordar “Daqui a bocado” e quando acordei só me lembrava de uma música do concerto “É ruim acordar de madrugada/pra vender bala no trém/Se eu pudesse tocava em meu destino/hoje eu seria alguém”.

Um dos momentos mais bonitos da noite. Como não há vídeos com qualidade do concerto de Lisboa fica este, ao lado de Caetano Veloso, grande momento da música brasileira.
 
 
Fotografias com direitos reservados

2 comentários:

  1. Olá Sergio, não me importo que uses as minhas fotos nos teus posts mas agradecia que não retirasses a assinatura que coloco nas fotos. Ao menos coloca no final do post os creditos.
    Obrigado,
    Nuno Fontinha

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    1. Boa tarde Nuno. tens toda a razão. O acesso é tão fácil que torna o desrespeito mais provável. Para além disso sou novato nisto e estamos sempre a aprender. Vou corrigir e aplicar daqui em diante.
      Obrigado

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