Da mente de Rob Zombie, o músico de metal que se tornou
realizador de terror, espera-se o melhor. Desta vez o maestro presenteou o
público com “The Lords of Salem”, que nos conta a história de Heidi, uma
apresentadora de rádio em Salem, protagonizada pela sua esposa, Sheri Moon
Zombie. Heidi recebe uma caixa de madeira com um disco e um pedido para passar
a música no seu programa. Quando a agulha finalmente toca no vinil, os sons que
se fazem ouvir despertam na apresentadora memórias do violento passado de
Salem, as bruxas e os seus planos de trazerem ao mundo o filho do diabo, e a
sua condenação. O filme desenvolve-se com a dúvida de Heidi. Estará a ficar
louca, ou as bruxas regressaram para se vingarem dos seus carrascos?
“House of a Thousand Corpses” e “The Devil’s Rejects”
deram-me a conhecer o trabalho de Rob Zombie, e ainda hoje os considero parte
da razão porque sou tão fã da categoria. Depois veio a sua visão da saga
“Halloween” e de Michael Myers, e aí foi a verdadeira confirmação de que estava
perante um mestre do terror. Em “The Lords of Salem” estava preparado para um
momento muito mais criativo e pessoal de Zombie, que se inspirou nas suas
raízes para nos trazer esta obra. A crítica está dividida entre o péssimo e o
genial, mas todos estão unidos na opinião que os sustos não são o ponto forte
do filme. Nesse aspecto concordo com a maioria dos críticos. Quando vejo
comédias exijo que me façam rir, já quando vejo terror não acho que o susto
seja um factor indispensável. O que me interessa neste género são os ambientes,
a riqueza das personagens e do enredo e o peso psicológico que fica impresso
depois do filme. Os cagaços e o gore também são bonitos de se ver, mas quando a
cortina cai e as luzes acendem não fica nada. Em “The Lords of Salem” não há
gore ou cagaços. Rob Zombie está no seu melhor, vai mais longe que o susto
superficial e quase nos convence que estamos a ficar loucos. É assim que saímos
do cinema ainda incomodados com o que acabámos de ver, e vamos o caminho todo
para casa a remoer aquilo.
As cenas que remetem ao passado de Salem são
arrepiantes e a imagem deixou-me estático. Ao longo do filme as visões e
distúrbios de Heidi tornam-se cada vez mais intensos, o que mantém a tensão por
todo o filme. Á medida que Dr. Loomis, um dos convidados do programa de rádio
que ouviu o disco, descobre a relação entre a apresentadora e o velho culto de
bruxas, todo o enredo entra numa espiral alucinatória que no fim me deixou de
boca aberta. Não digo que esta
anti-metáfora com uma anti-virgem não tenha alucinado de mais, e por vezes
fiquei demasiado incrédulo para apreciar a obra no seu todo, mas uma segunda
visita fez mais sentido. No final, esta é uma obra que, sendo criativamente
liberal, nos deixa embebidos no ambiente negro que lentamente constrói, desde o
conventículo, passando pelo apartamento 5 e acabando na pilha de corpos que lhe
serve de pedestal, vale a pena a espreitadela mesmo para os mais cépticos.
Forever more!
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