quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Uma Dádiva de "The Lords of Salem"

Da mente de Rob Zombie, o músico de metal que se tornou realizador de terror, espera-se o melhor. Desta vez o maestro presenteou o público com “The Lords of Salem”, que nos conta a história de Heidi, uma apresentadora de rádio em Salem, protagonizada pela sua esposa, Sheri Moon Zombie. Heidi recebe uma caixa de madeira com um disco e um pedido para passar a música no seu programa. Quando a agulha finalmente toca no vinil, os sons que se fazem ouvir despertam na apresentadora memórias do violento passado de Salem, as bruxas e os seus planos de trazerem ao mundo o filho do diabo, e a sua condenação. O filme desenvolve-se com a dúvida de Heidi. Estará a ficar louca, ou as bruxas regressaram para se vingarem dos seus carrascos?

“House of a Thousand Corpses” e “The Devil’s Rejects” deram-me a conhecer o trabalho de Rob Zombie, e ainda hoje os considero parte da razão porque sou tão fã da categoria. Depois veio a sua visão da saga “Halloween” e de Michael Myers, e aí foi a verdadeira confirmação de que estava perante um mestre do terror. Em “The Lords of Salem” estava preparado para um momento muito mais criativo e pessoal de Zombie, que se inspirou nas suas raízes para nos trazer esta obra. A crítica está dividida entre o péssimo e o genial, mas todos estão unidos na opinião que os sustos não são o ponto forte do filme. Nesse aspecto concordo com a maioria dos críticos. Quando vejo comédias exijo que me façam rir, já quando vejo terror não acho que o susto seja um factor indispensável. O que me interessa neste género são os ambientes, a riqueza das personagens e do enredo e o peso psicológico que fica impresso depois do filme. Os cagaços e o gore também são bonitos de se ver, mas quando a cortina cai e as luzes acendem não fica nada. Em “The Lords of Salem” não há gore ou cagaços. Rob Zombie está no seu melhor, vai mais longe que o susto superficial e quase nos convence que estamos a ficar loucos. É assim que saímos do cinema ainda incomodados com o que acabámos de ver, e vamos o caminho todo para casa a remoer aquilo.

As cenas que remetem ao passado de Salem são arrepiantes e a imagem deixou-me estático. Ao longo do filme as visões e distúrbios de Heidi tornam-se cada vez mais intensos, o que mantém a tensão por todo o filme. Á medida que Dr. Loomis, um dos convidados do programa de rádio que ouviu o disco, descobre a relação entre a apresentadora e o velho culto de bruxas, todo o enredo entra numa espiral alucinatória que no fim me deixou de boca aberta.  Não digo que esta anti-metáfora com uma anti-virgem não tenha alucinado de mais, e por vezes fiquei demasiado incrédulo para apreciar a obra no seu todo, mas uma segunda visita fez mais sentido. No final, esta é uma obra que, sendo criativamente liberal, nos deixa embebidos no ambiente negro que lentamente constrói, desde o conventículo, passando pelo apartamento 5 e acabando na pilha de corpos que lhe serve de pedestal, vale a pena a espreitadela mesmo para os mais cépticos. Forever more!


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