segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Rehab Urbano à la Lisboeta é no Príncipe Real


Todos os dias que tenho que meter os pés ao caminho para ir para Lisboa trabalhar são uma paulada nas costas. O trânsito e as multidões lixam-me a vida. Como é que é possível demorar tanto a atravessar a ponte e chegar a uma ponta da cidade em tanto tempo como se vai até Castelo Branco? Faz-me perguntar porque é que insisto em trabalhar na capital. 



Lisboa dá-me mais é para laurear a pevide e curtir umas esplanadas, coquitéu e petisco... ai não, tapas... e entrar numas lojas onde não posso gastar um tusto mas em que arregalo o olho. A cidade do dandy por excelência - e nisso ela brilha - muito por conseguir juntar o chic e shock no mesmo largo, na mesma rua, no mesmo bairro.  Um deles - que se veio a tornar o ex líbris dessa faceta da cidade - é o Príncipe Real, vítima do revivalismo, com as velhas fachadas a rejuvenescer e a transformarem-se em espaços trendy, que empinam o nariz aos tugas e que vazam as carteiras aos turistas, mas com muita pinta. São diversos restaurantes de sushi, hambúrgueres gourmet e todos os petiscos que impelem qualquer foodie (excepto os tesos, que até é o meu caso) AH... e cenas tipo de moda e tal. O que é certo é que o bairro é distinto e quem lá vai não vai para ver mais do mesmo.


No cerne da questão está um gajo de stetson hat e cowboy boots - a minha maneira pouco estereotípica de imaginar um americano que nunca vi - que têm posto alguns espaços a brilhar: Entre Tanto Indoor Market e Embaixada são dois projectos da Eastbanc, empresa do norte-americano Anthony Lanier, que vem a promover projetos de reabilitação urbana desde Washington até Lisboa, onde já trabalha há 8 anos. No one and only bairro lisboeta, entre estas duas galerias e outros espaços habitacionais e comerciais, a Eastbanc conta que o investimento chegue aos 200 milhões de euros (qué isso??).

O tendencioso ENTRE TANTO

O Entre Tanto Indoor Market veio reconverter o Castilho Palace, um edifício do século XVIII. É o mais recente espaço comercial projectado pela tal empresa de Washington e já atraiu mais de 20 lojistas independentes que oferecem moda, design de interiores, decoração e petiscos e copos do melhor. 
A ideia, ao contrário do que se passa com o convidado que se segue, foi criar um espaço comercial funcional, com lojas de todos os géneros que fizessem com que os visitantes não quisessem sair de lá se soltar os cordões à bolsa. Moda vintage com a Change, mobiliário vanguardista com a Nichts Neues,  sumos (cagões) detox com a Liquid ou um cantinho com tudo o que põe uma senhora a brilhar, o 4Women, são algumas das opções que valem a pena explorar.



A sumptuosa EMBAIXADA

Em contraste com o estilo funcional e diversificado do Entre Tanto, A Embaixada é um espaço conceptual, dedicado ao produto e empreendimento português, que, apesar de mais empinadote, transpira tanta moda, cultura e lifestyle que dá vontade de um gajo se vestir bem e pôr perfume para dar uma visita e sentar-se numa das esplanadas a ler poesia. O tal americano veio reabilitar o Palácio Ribeiro Cunha, construído em 1857, e está aberto desde o final de 2013. É um conceito de restauração e lojas de marca que se revelam em corners trendy (já mete nojo tanto itálico) e tão bem decorado que apetece ir lá e ficar só a ver (ou isso é a falta de guita?).

Entre detalhes de criatividade e outros clássicos e elegantes, a personalidade destaca-se em marcas tão originais como Amélie au Théâtre, com moda vintage e acessórios femininos, a Organni, com cosmética orgânica para todos os sexos e idades, a VLA Records, que alia a música ao artesanato, o Café Bar Le Jardin, a moda e decoração inspiradas no estilo de vida rural português da Urze ou os designers de Moda da Storytailors. O melhor mesmo é passar por lá e ver tudo com os próprios olhos. A malta vê-se no quiosque para beber um cafézinho e pagam vocês.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

"Je Suis Charlie" Será o Novo Bastião da Liberdade de Expressão

Desde ontem que meio mundo está de antenas e corações virados para Paris, após o vil atentado aos jornalistas do Charlie Hebdo e à liberdade de imprensa. Digo meio mundo porque foi sem surpresa que vi outros que voltaram as costas em festa e celebraram os assassinos como heróis e também os que cá pelo ocidente escarnecem as vítimas ao afirmar que foram culpados de terem usufruído livremente dos seus direitos humanos e que se escondem com frases contraditórias como "Não que os actos terroristas sejam desculpáveis, mas..." e não entendem que não pode existir crença ou moral que justifique a barbárie. 

Os que celebram o terrorismo são cegos de nascença e nem me atrevo a tentar compreender o que leva uma educação tão errada a sobrepor-se ao mínimo bom senso, por isso é nos outros que o meu pensamento se concentra. Diverti-me a ver um vídeo do Sensivelmente Idiota a achincalhar o Gustavo Santos após o menino ter expressado essa atrasada opinião que, resumida, diz algo assim "Os terroristas devem ser apanhados e severamente punidos mas aqueles gajo também andavam a pedi-las" e uma série de idiotas que o defenderam a comparar que gozar com a opinião deste boneco é o mesmo que os terroristas fizeram, é violar a liberdade de expressão. Deparei-me também com um comentário de alguém que se perguntava "se gozarmos com um puto de dez anos porque é feio é bullying porque é que gozar com a religião dos outros é liberdade de expressão?" Vendo por esse prisma temos todo o direito de dar um tiro na carola a um puto porque gozou com o outro, ou não é assim? E este senhor também gozou com os muçulmanos e terroristas porque comparou a sua fragilidade com a de um miúdo de 10 anos, também merece um verdadeiro balázio nos cornos, se fosse a sentença aplicável ao acto de "gozar" que tantos atrasados mentais têm valorizado mais do que o atentado em si.

Mas como digo, defenderei acima de tudo a liberdade de expressão, por isso os idiotas têm todo o direito de continuar a ser idiotas, desde que as mútuas agressões não passem das palavras a que todos têm direito, assim como é o caso da opinião. Essas todos as temos que ter e a minha é que os que criticaram mais o acto dos jornalistas que o dos terroristas são uns valentes montes de merda que não são capazes de ver que o atentado não foram apenas as mortes destes jornalistas e cartoonistas mas a tentativa de nos roubar o benemérito que essas pessoas representavam!

Costuma-se dizer que as opiniões são como os cus, que cada um tem a sua. 
A única diferença é que no que diz respeito a cus, tentamos foder os que gostamos!

Hoje li dois grandes testemunhos da liberdade de expressão. O primeiro foi do Rui Sinel de Cordes, humorista que admiro e que compara, e bem, a liberdade de expressão com a liberdade humorística. Na verdade são a mesma coisa, com a única diferença a ser que é preciso ter uns tomates muito maiores para expressar, de forma transparente, a opinião através do humor. Este génio do humor negro criticou as massas de cartazes "Somos todos Charlie", entre os quais estavam alguns editores e produtores que lhe cortaram as vasas por o seu humor ser demasiado ofensivo. "Je também suis Rui Sinel de Cordes" e je cá também acha que todos os dias essa liberdade é atentada por regras editoriais.

O segundo testemunho que admirei foi o do Luís Pedro Nunes, director do Inimigo público. Talvez por me parecer ser o jornal que em Portugal está mais perto das convicções do Charlie Hebdo, a par do Diabo, um jornal de uma índole não tão satírica mas muito crítica, mas que infelizmente existe numa dimensão muito mais pequena. Luís Pedro Nunes fez-me acreditar que não se pode recuar perante esta disseminação do medo, e que a liberdade de expressão se deve fortalecer com este atentado, afirmando que o jornal Charlie Hebdo representava "um desafio à natureza da própria liberdade, à tolerância" com o qual eu não poderia estar mais de acordo, sobretudo no mundo do humor satírico e crítico.

É de alma pesada que uso a bandeira Je Suis Charlie e espero que as vítimas deste atentado sejam para sempre um bastião da liberdade de expressão e que todos os autores do mundo se lembrem deles quando tiverem que ser erguer contra qualquer forma de opressão desse bem precioso. Choramos as vítimas mas o que elas representam nunca morrerá!